Sergipe, meu xodó, meu aconchego.

08 de julho de 2023, 10:05



Texto de autoria de Juliana Cardoso Ribeiro*

 

Agora é a vez de falar de Sergipe! Terra onde eu nasci. O menor estado do Brasil, meu xodó, que hoje completa 203 anos de emancipação política da Bahia. Em 08 de julho de 1820, Sergipe tornava-se finalmente, independente.

Si’ri i pe, na origem Tupi:  Siri (caranguejo), i (água), pé (caminho ou curso): “no rio dos Siris”. Também já foi chamada Cirizipe ou Cerigipe: “Ferrão de siri”, ou Ciriji, Sirigype, Serzipe e Serygipe, na época em que os portugueses, por estas terras, chegaram. Depois se tornou Sergipe.

Terra do caranguejo, dos cajueiros e das araras! Terra de povos indígenas que aqui habitaram, desde o litoral, com os Tupinambás e caetés; às margens do rio São Francisco, com os Aramurus e kiriris; ou no interior, com os Aramaris, abacatiaras e Ramaris e, ainda, com os xocós, existentes e resistentes e que vivem até hoje na Ilha de São Pedro, região de Porto da Folha. Foi assim que se iniciou o processo do desenvolvimento da nossa identidade. 

Existia, naquele tempo, um indígena valente e guerreiro, que tentou resistir a invasão de estrangeiros, por anos a fio e inteiros. Seu nome era Serigy, de mesmo significado de onde se originou o do estado. O cacique Boi peba, como era conhecido, era também temido, e depois de quase 30 anos, não resistiu no final, e sucumbiu. Foram tempos difíceis para os originários destas terras. Mas foi assim, então, em meio à luta, que nasceu, em 1590, o arraial de São Cristóvão, Sergipe Del Rey, que ficou, na ocasião, subalterno e submetido à tutela da Bahia por dois séculos e meio. Neste tempo, havia produção de cana-de açúcar e criação de gado, e a mão-de-obra escravizada passou a ser utilizada. 

Os povos originários, ainda neste período se rebelavam, e não queriam obedecer às ordens dos portugueses, que tentavam a todo custo, dominá-los. Os franceses também andaram por lá em busca do pau-brasil, mas foram expulsos, em 1601.

Foi um tempo de muita luta. E num lapso de independência conquistada, em 1696, nasceram as vilas de Lagarto, Itabaiana, Santa Luzia, Santo Amaro e Vila Nova do São Francisco. Foram tantas lutas, até finalmente D. João VI assinar, em 08 de julho de 1820, a Carta Régia, que fez Sergipe se tornar independente e virar a Capitania de Sergipe Del Rey. No entanto, essa carta somente chegou por aqui com a novidade, em 24 de outubro de 1824, data em que o sergipano hoje celebra a sua sergipanidade. Mas não foi tão fácil a partir daí. Os conflitos continuaram, e só a independência do Brasil, neles pôs fim. Em 5 de dezembro de 1822, D. Pedro I confirmou a decisão de 1820. 

Daí em diante, Sergipe desenvolveu-se, prosperou! A capital, em 1855, mudou. Passou de São Cristóvão para o povoado São Antônio de Aracaju e muitos que ficaram sofreram neste processo. Mas Sergipe ia crescendo, e a sua economia e cultura se desenvolvendo.

Neste processo, e em meio à mistura de indígenas, negros, portugueses, talvez franceses e holandeses, um pouco mais à frente, criou-se a nossa identidade. Hoje a nossa cultura é rica. Há um pedacinho de cada um deles. Tem vários grupos folclóricos: maracatu, cangaceiros, cacumbi, zabumba, taieira, lambe sujo e caboclinhos, e reisado. Há ainda, os parafusos, que recentemente, em 2020, foi declarado Patrimômio Histórico, Cultural e Imaterial deste estado. E ainda tem mais. É muita história para contar, minha gente!

Sergipe é também conhecido como o País do forró! Em junho, capital e interior se deleitam de tantas festas, quadrilhas e fogos. Nesta época, tem os Bacamarteiros, em Carmópolis; o Barco de Fogo, em Estância; a Festa da Silibrina, em Lagarto; Sarandaia, em Capela; o Foró Caju, em Aracaju; e tantos outros forrós nas várias cidades do estado. É festa para todo o lado!

E tem também o pré-caju. É tanta festa, minha gente!

E a comida desse lugar é também um misto de culturas. Tem macaxeira, inhame, sarapatel, rabada, feijoada, carne de sol e pirão de leite e requeijão… Tem também frutos do mar. O caranguejo é carro chefe, seguido de peixe e camarão. Eita, comida boa da peste!

Já ia esquecendo das frutas! Tem laranja, jaca, mangaba, maracujá, seriguela, caju, manga, tamarindo, pitanga e graviola. E tem ainda o amendoim. Este não pode faltar! É cozido! Não há em outro lugar. O amendoim verde cozido foi, em 2013, oficialmente considerado patrimônio imaterial de Sergipe. É tanta coisa boa para apreciar!

Vamos agora pensar nas pessoas que vivem e já viveram nesse lugar… É a terra de Tobias Barreto, Laudelino Freire, Sílvio Romero, João Alves Filho, Hermes Fontes e Gumersindo Bessa. Mas preciso mesmo apontar mulheres de se admirar: Beatriz Nascimento (historiadora, pesquisadora, poetisa e ativista de direitos humanos de mulheres e homens negros), Maria Thetis Nunes (primeira mulher de Sergipe a ingressar no ensino superior), Ofenísia Freire (2ª mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras), Maria Rita Soares de Andrade (1ª mulher nomeada a juíza federal no Brasil) e Alina Leite Paim (escritora de mais de 10 romances e 4 livros da literatura infantil, alguns dos quais traduzidos para a língua Russa, Chinesa, Búlgara e Alemã, que se utilizava de protagonistas feministas e fortes), entre tantas outras, conhecidas ou anônimas, que se destacam por aí.

Tem também lampião, vilão e herói do Sertão, que mesmo não nascido nesta terra passou por aqui e morreu lá em Poço Redondo, junto com Maria Bonita, a sua amada, e o seu bando de jagunços. Fez por aqui história, aguçando o imaginário da população.

Vamos pensar em suas formas, Sergipe… O que dizer das suas praias? Pirambu, praia do Saco, Abaís, Caueira, Pontal, Terra Caída e toda a Orla de Aracaju? Sergipe tem praias quentes, para alegria da gente. Eita, terra gostosa! Quero estar lá num instante! 

Lembrei agora dos Cânions do Rio São Francisco. Dizem que são uns dos maiores cânions navegáveis do mundo. Como são lindas e perfeitas, as suas rochas. É de se admirar, com emoção. Lá, dá para nadar no Rio São Francisco, no velho Chico, um dos mais importantes cursos d’água da América do Sul. Divide Sergipe e Alagoas.

Eu quase já me esquecia, da Lagoa dos Tambaquis, lugar tranquilo e sereno, cheio de redes e tambaquis. Tem também o parque dos falcões e a serra de Itabaiana. Dá para ir lá fazer trilha.

Eita, estado bom danado! É o menor em extensão, em um país tão gigante. Dá para atravessá-lo de ponta a ponta num instante. Lá tem vida e comida boa. É bom demais de viver. Há sempre um local de guarida em sua “imensidão”. Parabéns, Sergipe! Parabéns, meu xodó! Parabéns, meu aconchego! Viva a sua liberdade! Viva o que você se tornou!

 

Fontes:

Ciência UFS, De Cirigype a Sergipe-del-rey: estudo resgata origens de nomeacoes geograficas do estado.

Portal São Francisco

IBGE

Governo de Sergipe, Lei nº 7.682, de 17 de julho de 2013

Destaque Notícias, Oito Sergipanas para serem lembradas

Solutudo, Quatro mulheres que fazem parte da história do feminismo Sergipano

 

 

*Juliana Cardoso Ribeiro é Doutora em Sociologia pela Universidade do Porto (Portugal), Mestre em Estudos Europeus pela Universidade do Minho (Portugal) e graduada em direito pela Universidade Federal de Sergipe. É também a idealizadora e criadora do Terraço da Gente, membro colaborador do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (Portugal) e membro do Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e Consumo (Brasil).

 

 





Comentários

Bruno felipe

Muito boa a materia

cleonaldo

otimo texto

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